O amuleto fora pendurado no local dito como especial. Era criança quando fizera aquilo e sua visão inocente e peculiar sobre o mundo era muito fantástica para entender o fato que ocorria naquele momento. Aquele colar com a imagem de seus pais carregava uma história fantástica. As informações e memórias preciosas estavam gravadas naquele objeto. A luta pelo amor de um casal limitado pela sua época de guerra e tristeza se concentravam naquele pequeno ponto. Os galhos da árvore mística seguraram por mais de 30 anos aquela relíquia. Lógico que havia prendido bem, pois seria trágico algum esquilo ou ave se encantar pelo brilho dourado que aquele mesmo refletia. Os motivos de ter colocado ali foram completamente espirituais, mas só após 30 anos pode compreender a verdade sobre as coisas deste mundo. Apesar de tão fantástica ser a história e tão complexa a crença celta, os pequenos detalhes revelam os maiores mistérios da vida. O amuleto estava sujo.
Apesar de todo aquele ambiente ser magnífico e o quão especial aquele colar era, ele se sujou. Tudo que existe é fadado a se sujar e o ser humano não escapa disso. As coisas ao domínio do homem não fogem deste fato. Buscamos torná-las especiais, mas a natureza pouco importa para nossa vontade. Ela apenas age da forma correta e natural. Consideramos nossas atuações, supostamente "inteligentes" sobre o espaço da terra, algo sagrado e superior a todas as coisas, mas tudo se suja. Não é questão apenas de morte, mas sim de que lutar contra a nossa natureza é algo destinado ao fracasso. A moral do ser humano não se compactua aos seus extintos, por mais que você queira controlá-los. A tentativa através do medo, punição ou seja o que for é inútil quando você passa a analisar a perspectiva de que tudo um dia irá se sujar. Os ditos "pecados" são algo natural nosso e sempre vamos cometê-los. Assim como aquele amuleto mais precioso se sujou, o maior dos homens também à de ter se sujado. Apesar de a moral ser algo bom e buscar controlar os extintos seja sábio, é impossível fugir da naturalidade. Somos parte de um evento natural e essa é a questão. Essa é a resposta da natureza mediante a nossas crenças. Por mais que um homem lute para não abusar fisicamente de uma jovem, ele já se sujou pelos seus desejos.
Derramou lágrimas quando retirou dos galhos o colar. Banhando o amuleto com seu pranto e o purificando com o pano de sua camisa, a relíquia não estava mais suja, porém a sujeira corrompeu a imagem dos pais para algo não tão legível como era antes. Isso machucava seu peito e amaldiçoava o homem que buscava em vão manipular a realidade com suas religiões. Nada foge da naturalidade. Novamente o objeto estava limpo mas à de um dia ela se sujar novamente.
Nós podemos reparar a sujeira que nos foram impregnadas, porém algumas marcas podem ser eternas. Sua identidade pode ser completamente apagada e sobre ela existi um borrão escuro e denso. Apesar de isso soar triste, aceitar este lado da história pode ser libertador. A sujeira de primeiro plano pode ser vista como algo negativo, mas o fato é, nós somos a sujeira. A forma pela qual a natureza te molda ou talvez as circunstâncias, são conseqüências do processo de evolução de todas as coisas e isto não é exclusividade dos humanos. O mundo é nós. Nós fazemos parte do mundo. Tudo é poeira.
Nossa inteligência não nos torna especiais, nem nossa
sabedoria e conhecimento, mas sim a oportunidade que temos de poder acompanhar
este evento precioso chamado vida.
Mac K. Lupus.